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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Annelise Taylor

Sim! Esta é a nova personagem - nem tão nova assim. Ela nasceu antes 
da Lucy, bem antes x3 A história estava parada a alguns meses, mas resolvi voltar. Eu já não encontrava 'aquela' melancolia toda para escrever a história... 
Mas eu me apaixonei pelos personagens principais, e algumas pessoas também,
então resolvi continuar. Espero que gostem dessa! Não esqueçam de deixar comentários e seguir o blog. 


Boa leitura! -ou nem tão boa assim ;P

A história de um anjo | Capítulo I


Um feixe de luz atravessava o quarto de um lado a outro e atingia meu rosto. Afundei entre as cobertas tentando escapar da claridade e da realidade: eu ainda estava viva. A esperança diária de que eu podia dormir e não acordar na manhã seguinte nascia em mim todas as noites e morria pelas manhãs durante os dias que se passavam. E não eram poucos: um mês, 3 semanas e 4 dias. 56 dias que pareciam não ter fim. 1344 horas que passavam devagar. Minha vida estava passando como um vídeo em slow motion; que eu não fazia questão, mas era obrigada a ver.
Até que minhas contas terrivelmente precisas foram interrompidas pelo celular que tocava insistentemente. Descobri a cabeça e observei o aparelho que vibrava como se tivesse vida própria em cima do criado mudo; eu nem precisava ver o número no identificador de chamadas, eu já sabia quem era. O barulho do celular – meu inferno portátil, como eu o havia apelidado a algumas semanas – começava a me irritar, então rapidamente estiquei e apertei o botão vermelho. Paz. Mal tinha desligado o aparelho e o maldito vibrou de novo em minha mão. Dessa vez foi inevitável olhar o número da pessoa insistente; eu tinha acertado. Óbvio. Eu só não entendia o porquê da insistência. Encarei o celular e pensei por um segundo ou dois se deveria atender; talvez fosse melhor acabar com aquilo de uma vez, dizer umas boas verdades, chorar, berrar; talvez ele não ligasse mais. Ou talvez tudo aquilo fosse apenas mais uma de suas estranhas diversões e ele quisesse dar sua última cartada, ou quisesse cravar aquela faca mais fundo – como se a dor que eu estava sentindo ainda não fosse o suficiente. No terceiro segundo eu já tinha decidido: pressionei o botão vermelho por um tempo mais longo, e a tela do aparelho se apagou. Novamente paz. Eu não suportaria mais dor. Uma lágrima caiu sem que eu percebesse e eu levei a mão ao rosto; aquele gesto já tinha se tornado algo automático e comum pra mim, as lágrimas fugitivas ainda escapavam de vez em quando.
Droga, meu sono tinha passado. Eu não lembro qual teria sido a última vez em que eu dormia uma noite inteira. Eu dormia tarde, e acordava cedo – geralmente com um babaca me ligando.

Empurrei as cobertas formando um bolo macio e colorido no pé da cama, e senti meu corpo estremecer. O frio de maio era incomum para a época, mas já dava para ter uma noção do inverno que se aproximava. Levantei e caminhei até a cortina, abrindo espaço entre elas com uma das mãos, e observei o gramado úmido com a chuva fina que caia. As árvores sem folhas e escuras marcavam o ápice do outono, e deixavam a paisagem mais triste, como se aquilo tudo fosse de propósito. É: nada parecia estar a meu favor.

Em passos lentos e preguiçosos fui até o banheiro, abrindo a torneira da pia. A água fria tocou o meu rosto pálido e eu olhei para o espelho, na esperança de ver algo melhor. Droga! As olheiras pareciam mais fundas e roxas a cada dia. Eu estava parecendo uma verdadeira zumbi. Passei os dedos entre os fios de cabelo embaraçados, e tive pena dos meus cachos. Estavam mais parecidos com nós do que com cachos. Olhei para o espelho e franzi a sobrancelha; eu odiava aquela imagem. Eu estava começando a ter pena de mim, ou nojo. Fazia dias que eu não penteava o cabelo. O banho era obrigatório, mas o cabelo estava sempre preso em coque, para evitar a água e o trabalho de lavar, enxaguar e pentear. Eu não tinha motivos pra isso. Ninguém iria me ver; então aquele trabalho todo era dispensável. Mas naquele momento eu percebi que eu não ficava bem de dreads. Se eu ficasse assim mais alguns dias logo poderia ser comparada com o Bob Marley, com a grande diferença de que ele sabia cantar, e eu não.