Abri a janela do quarto, e dei de cara com o seu azul borrifado de nuvens brancas. O dia parecia mais alegre do que os anteriores. Aquele clima de luto começava a me deixar, e eu até conseguia respirar mais facilmente.
Abri o note book, e comecei a vasculhar os e-mail’s de Nilo. Queria algum trabalho fácil, que eu pudesse fazer sem sair de casa – eu ainda não estava pronta para sair dali. O sítio tinha se tornado meu forte, e eu não sairia dali tão cedo. Os dias que passei ali tinham um gosto inconfundível de melancolia, mas foram também os dias mais silenciosos que vivi. O silêncio é bom de vez em quando; até minha alma parecia mais calma.
Não havia nenhum e-mail novo de Nilo, ou seja; o tédio era certo. Eu precisava me ocupar. Queria sentir gostos diferentes que não fossem os da melancolia, ou do tédio. Uma janela subiu, e eu me surpreendi. A criatividade parecia ter tomado conta do “ser - desocupado” que parecia estar decidido a me importunar. Ele agora tinha um nome. Matt? Nossa. Que criativo.
Matt diz:
Bom dia Anne.
Espera aí. De onde ele tirou essa intimidade toda?
Anne diz:
Em primeiro lugar, “Matt”, não me chame assim. Não te conheço.
Matt diz:
Porquê você é sempre tão mau-humorada?
Anne diz:
Eu não seria se vocês deixassem de ser tão idiotas. Aliás, esse é um defeito das pessoas desocupadas como vocês. Não tem mais o que fazer?
Matt diz:
Na verdade não. É exatamente o que eu tenho que fazer. E..não sei porquê você insiste em achar que trabalho em revistas de fofoca. Você nem ao menos me conhece Anne. Seu mau-humor é infundado.
Até que para um redator de revista de fofoca ele escrevia bem.
Anne diz:
Não te conheço, e nem pretendo.
Matt diz:
Meu nome é Matthew e preciso encontrar você. Mas você precisa querer isso.
Anne diz:
HAHAHAHAHA! CLARO. Claro! ÓBVIO! Olha aqui, Matthew né? Não quero conhecer você. Não quero ser entrevistada nem espionada. Dá pra me deixar em paz?
Matt diz:
Você não tem fé. Esse é seu maior defeito. Aliás, você não tem fé em nada...
Anne diz:
Muito menos em pessoas como você!
Fechei o note book irritada. Ele parecia mais irritante cada vez que resolvia me importunar. Era o trabalho dele...Mas qual é! Não dava pra ser um pouco menos chato? E menos insistente, talvez?