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terça-feira, 5 de outubro de 2010

A história de um anjo | Capítulo 3

Bufei e um sorriso irônico apareceu em meus lábios. Bela jogada. Ele preveu que eu apagaria os e-mails, muito criativo.

- Sim, você é muito idiota! – dessa vez falei mais alto, brigando com o computador. Eu deveria estar surtando, discutindo sozinha. Outra janelinha.

Pare de me chamar de idiota. Não sou idiota. E você não está discutindo sozinha, eu já disse que não está sozinha.


- Tá bom, a brincadeira acabou! Não achei a menor graça. – é, eu começava a achar aquilo tudo muito sem graça. Aquela pessoa me conhecia muito bem, para saber o que eu faria ou falaria naquela situação. E deveria ter calculado perfeitamente o tempo de cada uma das minhas reações. Mais uma janelinha.

O que te faz achar que é brincadeira?”

Aquilo começava a me assustar. Será que alguém estava me espionando? Uma câmera, ou microfone? Percorri o note book com os olhos, e revirei de todos os lados. Não encontrei nada de anormal. Mas para prevenir, desliguei o note book, fechei e deixei em cima da cama. Aquele idiota não estragaria meu dia. Eu tinha decidido sair da melancolia e era exatamente isso que eu iria fazer. Vesti uma blusa de lã fina, enquanto encarava o note book ainda desconfiada. Tentei esquecer o idiota metido à paranormal e saí para a varanda com o copo de chá na mão. Me acomodei na cadeira estofada e observei o gramado encharcado pela chuva que ainda caia, com mais intensidade. Dei um gole no chá e fiz uma careta; já estava frio. Voltei meu olhar para o gramado, e fitei o lago por alguns instantes. Como aquele lugar me dava paz...
Meu lugar preferido desde criança. Todas as férias eram destinadas ao sítio, onde antigamente moravam meus avós. Sempre gostei desse clima do interior, das pessoas simples, do dia a dia simples. Era um lugar onde eu encontrava minha paz. A casa antiga feita de tijolinhos de barro me fazia pensar quando criança: ‘como eles colocaram um por um aí? São muitos tijolinhos. Deve ter demorado um século. ’ É. Até hoje eu me perguntava isso. Bocejei enquanto viajava nos meus pensamentos e percebi que ainda estava morrendo de sono; resolvi então fazer alguma coisa que me distrairia; algo que eu pudesse fazer mesmo estando em um estágio avançado de preguiça: assistir um filme. Um bom filme iria me animar.
Entrei e fechei a porta da varanda para evitar o vento frio que soprava. Fui até a estante e escolhi um filme, optei por uma comédia, nada mais apropriado. Um de aventura seria tediante, e romances acabariam de vez comigo. Me enrolei nos cobertores novamente, estava tão confortável... Não sei se eu aguentaria muito mais tempo acordada.
Meus olhos se abriram, fitando a tela da tevê desligada. O vento entrava pela janela aberta e sacudia as cortinas. Pensando bem, não me lembro de ter deixado a janela aberta. Percorri o quarto com meus olhos, que se adaptavam à escuridão; já devia ser bem tarde. Quanto eu tempo eu teria dormido?

- Anne...? – uma voz baixa sussurrou meu nome e eu me assustei.

Olhei para a porta do quarto de onde vinha o som daquela voz e vi a silhueta de um rapaz. Estava escuro, e eu não consegui ver muito mais do que uma sombra. Em um pulo me sentei na cama afundando na cabeceira enquanto meu coração batia acelerado. Estranhamente não consegui pronunciar nenhuma palavra nem emitir algum som; eu estava presa dentro de mim mesma.

- Não tenha medo. Está tudo bem. – Percebi nesse momento a sombra se aproximar enquanto esticava um de seus braços em minha direção.

Não conseguia me mover, então fiquei olhando apavorada enquanto ele se aproximava. Sua voz doce penetrou nos meus ouvidos, o pânico agora não me tirava apenas a voz, mas a capacidade de pensar em alguma ação também. Eu gritava por dentro.
Abri os olhos e me assustei com a tevê alta. Ainda estava passando os trailers e o filme nem tinha começado.Tudo não tinha passado de um sonho.
 Tentava controlar minha respiração ainda um pouco ofegante por causa do susto, enquanto observava o quarto, só para prevenir. Olhei para a janela fechada e bocejei; com certeza não conseguiria ver o filme até o final. Peguei o controle da tevê e desliguei sem pensar muito. Eu precisava dormir; recuperar o sono perdido. Mas o sonho tinha sido tão real...Foi tudo tão... Real. Devo ter ficado paranóica depois daqueles e-mails geniais. Resolvi deixar pra lá, nada tiraria meu sono.

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